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Uma dúvida comum em quem começa a se interessar por análise do movimento, seja para avaliações clínicas, seja para pesquisa, ou mesmo para uma prática baseada em evidência, é como dividir um evento complexo e integrado, de forma a ter uma representação adequada, do que está sendo analisado.

Antes de mais nada, é essencial conhecer o que seria a técnica efetiva ideal para a realização de um gesto (McGINNIS, 2015), o que vai permitir entender, ou mesmo escolher o que é essencial para a avaliação que se deseja realizar.
Por exemplo, ao analisar, através da eletromiografia, um movimento de circundução do quadril, pode-se estar interessado na ativação dos estabilizadores do tronco ao longo de todo o movimento, de forma que a análise seria realizada a cada repetição. Outra possibilidade seria avaliar a ativação dos flexores em dois momentos: concêntrico e excêntrico, os quais poderiam ser determinados pelos pontos máximos (picos) de flexão e de extensão do quadril, dividindo assim cada repetição em duas fases. Pode-se ainda pensar em, dividir a mesma circundução de quadril em quatro fases: (1) do pico de flexão do quadril ao pico de abdução; (2) do pico de abdução ao pico de extensão; (3) do pico de extensão ao pico de adução; (4) do pico de adução ao pico de flexão. A escolha muitas vezes depende unicamente do objetivo da avaliação, e o profissional que a realiza deve optar pela que melhor responde ao que está sendo investigado, seja na clínica, seja na pesquisa. Já em outros casos, encontra-se facilmente na literatura sugestões de como dividir um gesto – como é o caso da marcha:

 

Adaptado de Perry (2005).
OBS.: o autor aponta que “passada” é o intervalo entre dois contatos iniciais do mesmo pé com o solo, enquanto “passo” é o intervalo entre o contado dos dois pés, de forma que em cada passada há dois passos.

Nesse sentido, em uma situação hipotética, se avaliássemos a marcha de dois pacientes, seria esperado encontrar uma ativação do gastrocnêmio e do tibial anterior. Mas, ao avaliar o mesmo movimento dividido em fases, poder-se-ia verificar que em um dos pacientes, a ativação do gastrocnêmio se deu entre aproximadamente 15 a aproximadamente 50% do ciclo da marcha (o que corresponde ao apoio médio e terminal), enquanto o tibial anterior não estava ativado nesse período e foi ativado em praticamente todo o restante do ciclo – como seria o esperado, segundo Sutherland (2001). Já no outro paciente, o tibial anterior manteve-se ativo também durante as fases de apoio médio e terminal, o que seria um indicativo de uma alteração importante na biomecânica dessa marcha. Com isso, fica fácil que a análise do padrão de marcha de uma pessoa por meio de fases identifica mais diretamente a importância funcional dos diferentes movimentos que ocorrem nas articulações individuais, bem como a ação simultânea das articulações no contexto geral, o que é essencial para interpretar os efeitos funcionais da inabilidade (Perry, 2005).
Ou seja, tão importante quanto a ativação de cada músculo, é o momento (ou fase) do movimento em que cada músculo está ativo, pois é isso que, muita vezes, irá determinar se esse movimento está sendo realizado de forma efetiva e funcional. Da mesma forma, no caso de patologias específicas, entender exatamente o que está fora da normalidade pode ser uma ótima forma de guiar a intervenção e acompanhar sua evolução!
Para saber um pouco mais sobre metodologias e instrumentos de avaliação, e sobre o timing da marcha assista nosso webnair ***

Texto por: Me. Catiane Souza

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2788554094463654

REFERÊNCIAS:

McGINNIS, P.M. Biomecânica do esporte e do exercício. Porto Alegre: Artmed, 2015.

PERRY, J. Análise da marcha: marcha normal Barueri. SP: Malone, v. 1, p. 3, 2005.

SUTHERLAND, D.H. The evolution of clinical gait analysis part l: kinesiological EMG. Gait & posture, v. 14, n. 1, p. 61-70, 2001.