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O esporão calcâneo se caracteriza por um osteófito, que segundo Whiting e Zernicke (2001) é um crescimento ósseo de cartilagem ossificada. Não raro, se encontram definições do esporão calcâneo como sendo sinônimo de outras patologias, como metatarsalgia, artrite, fascite plantar… Diversos aspectos diferenciam essas patologias, porém, muitas vezes, elas acabam se associando, seja por razões fisiológicas, seja por compensações mecânicas frente à dor, ou mesmo por evolução do quadro clínico. Em geral, um esporão calcâneo, é ocasionado por excesso de tração no tendão calcâneo, ou aumento de tensão na fáscia plantar (COLLET, 2002).

Sabe-se que a individualidade biológica e a memória motora fazem com que cada pessoa apresente diferentes causas para uma mesma patologia, e reações diferentes frente a uma situação dolorosa – seja ela gerada por um fator inflamatório ou mecânico. Por exemplo, ao desenvolver um esporão calcâneo, um paciente pode alterar a distribuição de carga na região ântero-posterior do pé, enquanto outras podem mudar a distribuição de carga entre os pés. A compensação acaba gerando novas demandas em músculos e em estruturas passivas (estruturas não contráteis, como ligamentos e cartilagens) que até aquele momento não eram utilizados em tal tarefa, o que, consequentemente, pode desencadear outras patologias.

Essas associações entre patologias, muitas vezes acabam sendo um dificultador no diagnóstico e tratamento de pacientes, visto que nem sempre se consegue distinguir qual lesão pode ser definido como “causa” e o que pode ser considerado “consequência”. Essa definição é essencial para que o tratamento não seja apenas voltado aos sintomas secundários, pois certamente isso será paliativo, uma vez que, se a causa principal não for tratada, os demais sintomas tendem a voltar, e até mesmo aumentar seu grau de complexidade com o passar do tempo. O panorama clínico do esporão calcâneo deve ser claro para o profissional que vai tratar um paciente com esse quadro, por exemplo, você sabia que metade dos pacientes com fascite plantar apresentam o esporão calcâneo (DUTTON, 2010)? E que apesar do esporão estar presente em alguns pacientes portadores de dor crônica no calcanhar, ele não é considerado como agente causador da síndrome dolorosa (FERRREIRA, 2014)?

A preocupação com um diagnóstico buscando a lesão/patologia primária é importante em qualquer tratamento músculo-esquelético, porém, deve ser redobrada na região do pé-tornozelo, que pela quantidade de ossos, ligamentos e articulações, é considerada a área mais complexa do corpo humano (WHITING, ZERNICKE, 2001). Além de testes clínicos (importantes em qualquer diagnóstico) e de exames de imagem (essenciais para avaliar a evolução do esporão calcâneo), testes biomecânicos acabam se tornando um grande diferencial no tratamento. Entender a distribuição de carga por uma plataforma de força ou baropodômetro, ou a ativação eletromiográfica que essa patologia vem gerando, permite ao profissional compreender qual a melhor abordagem, seja para o manejo da dor, ou para reprogramar o padrão mecânico de movimento evitando uma recidiva após a cirurgia – tão comum em casos mais avançados.

 

Texto por: Me. Catiane Souza

Lattes: http://lattes.cnpq.br/2788554094463654

 

REFERÊNCIAS:

COLLET BS. Problemas do pé. In: Abrams WB, Berkow R, editores. Manual Merck de informações médica. São Paulo: Manole; 2002.

DUTTON, M. Fisioterapia Ortopédica. 2ª ed.; Artmed; Porto alegre 2010.

FERREIRA, RC. Talalgias: fascite plantar. Revista Brasileira de Ortopedia, v. 49, n. 3, p. 213-217, 2014.

WHITING, W. C., ZERNICKE R. F. Biomecânica da lesão musculoesquelética. Rio de Janeiro: Guanabara, 2001.