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Por Que a Biomecânica Não É Mais Exclusiva de Laboratórios

Se você corre ou trabalha com corredores, já deve ter ouvido que a Avaliação Biomecânica da Corrida é algo caro, complexo e restrito a grandes clubes. No entanto, isso mudou completamente. A tecnologia tornou a biomecânica uma ferramenta acessível e indispensável tanto para o treinamento quanto para a clínica.

Neste bate-papo, o Dr. Guilherme Brot (PhD em biomecânica e fundador de um laboratório de análise de marcha) e o especialista Rodrigo explicam como a avaliação biomecânica direciona o treinamento e ajuda a prevenir lesões — inclusive nas fases iniciais da corrida.

Em outras palavras, a avaliação não é apenas para quem está lesionado. É sobre prevenção, eficiência e garantir que o corpo suporte as demandas impostas pela corrida.

 

O Mapeamento Inteligente: Cruzando Dados e Identificando Riscos

Para começar, a regra é clara: combine testes clínicos com dados biomecânicos.

O especialista Rodrigo utiliza softwares como o Kinovea em conjunto com testes como o navicular drop test (queda do navicular) e o de dorsiflexão em cadeia fechada. Assim, ele identifica padrões que indicam desequilíbrios e riscos futuros.

Fatores avaliados:

  • Cinemática: Padrão de movimento (queda pélvica, adução e rotação interna do quadril, deslocamento de tronco).

  • Estabilidade: Testes de salto e aterrissagem, que mostram como o corpo tolera o impacto.

  • Amplitude de movimento: Detecta rigidez articular, como a dorsiflexão limitada — muitas vezes associada à fascite plantar.

Além disso, o Dr. Brot reforça: se o atleta apresenta compensações em um ambiente controlado, esses desvios serão muito mais evidentes sob fadiga. Portanto, a avaliação revela o quanto o corpo está preparado para se proteger.

Tênis e o “Paradoxo do Amortecimento”: Pare de Seguir Tendências

Se há um tema que divide opiniões, é o tênis de corrida.

Segundo os especialistas, o segredo está em um conceito do pesquisador Benno Nigg chamado Paradoxo do Amortecimento. Veja o que ele mostra:

  • Calçados mínimos: Alto impacto, mas o corpo se protege ativamente.

  • Amortecimento moderado: Reduz o impacto de forma eficiente.

  • Excesso de amortecimento: O impacto pode aumentar novamente!

Isso acontece porque tênis muito robustos alteram o padrão de pisada, forçando o ataque com o calcanhar e aumentando o risco de lesões.

Portanto, a regra de ouro é simples: escolha o tênis pelo conforto percebido e nunca mude seu padrão de ataque sem adaptação gradual. Afinal, o melhor calçado é aquele que o corpo aceita naturalmente.

Força e Função: Quando a Academia Não é o Suficiente

Você pode ser forte, mas será que o seu corpo expressa essa força durante a corrida?

Segundo o Dr. Brot, o erro mais comum é treinar músculos isoladamente. Exercícios como “cadeira abdutora” não reproduzem o comportamento funcional do glúteo na corrida, que atua em cadeia cinética fechada — controlando e estabilizando a pelve durante o impacto.

Em resumo, não se trata de “fortalecer o glúteo”, mas de melhorar o mecanismo extensor de quadril dentro de um contexto funcional. Ou seja, a biomecânica ajuda o profissional a prescrever com precisão e o atleta a treinar com propósito.

O Poder do Salto e o Coeficiente K

Por fim, a avaliação do salto vertical oferece um retrato fiel da capacidade de absorção e propulsão do corpo.

Esse teste revela o coeficiente K, conhecido como efeito mola. Ele mostra se o atleta está rígido demais (impacto excessivo) ou complacente demais (perda de energia).

Assim, o treinamento pliométrico entra como ferramenta-chave para equilibrar essa rigidez elástica, melhorar o desempenho e prevenir lesões.

Portanto, o recado final é claro: avalie, interprete e direcione. A biomecânica é a bússola para uma corrida mais segura, eficiente e sem modinhas passageiras.